sábado, 2 de fevereiro de 2013

voaste.

Voaste como se tivesses asas, como se fosses mais, como se pudesses, efetivamente, voar. Já não reconheço o teu cheiro, já não sei bem a que sabem as tuas palavras, já não me lembro da cor dos teus dias, nem do quão gigante é o teu sorriso. Já não me lembro da força do teu abraço, muito menos do calor do teu beijo. Já não me lembro de nós. Aliás, lembro, mas não sei o que é sentir. Esqueci-me, entretanto, de amar. Já não sei como é. Dei tudo, fiquei sem nada. Levaste-me o amor, o carinho, a dedicação, os ciúmes, as lágrimas. Voaste e levaste tudo contigo. Não sei que quero que voltes, mas queria que me devolvesses esse amor inconsciente que gastei contigo, que despejei em ti.

sábado, 22 de dezembro de 2012

doces tropeções.

Tropeço em sonhos todos os dias. Estão aqui e ali, espalhados pelo chão, pelo teto, pelo meu mundo.
Tropeço em sorrisos e em satisfações perturbantes, tropeço em contentamentos vagos, em insanidades inquestionáveis.
Tropeço em ti, que tropeças em mim, e vamos tropeçando por aí, no tempo. No tempo que nem existe, que pertence ao mundo ou ao céu.
Tropeções com sorrisos anexados, tropeções semelhantes a chocolate quente num dia frio e chuvoso. Tropeções que embalam, que nos embalam na alma um do outro. E ficamos aí e aqui. Pelo céu, embalados neste sorriso, a tropeçar em amor.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um nada silencioso.

És o silêncio, o meu silêncio.
Não que sejas meu, porque não és. Mas és o meu silêncio, a minha calma e o meu transtorno. Pelo menos hoje és, porque amanhã já não sei, amanhã talvez já não existas, amanhã talvez já não faça sentido.
Não que hoje faça sentido, porque não faz. Não fazes, aliás. Não sei quem te pôs na minha vida, nem sei se o permiti. Não sei como te arrancar daqui, nem sei se quero.
Mas és o meu silêncio.
Não sei quanto tempo tens, não sei quanto tempo eu tenho. Mas nós não somos tempo, não somos horas, não somos segundos nem eternidades. Somos insanidade, momentos, incertezas, tranquilidade.
Somos carinho e somos nada. Um nada que não dói nem inquieta, um nada repleto de magia, de brilho, de luz. Um nada que não dura, que irreversivelmente finda com o pôr do sol.
Um nada que ri, um nada que voa, um nada que de nada tem tudo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

abraços e whisky

Traz mais um whisky, uma vodka, um martini. Traz tudo sem te esqueceres do sorriso, da alma, do brilho, desse ar que não sei descrever. Traz cigarros, e vontade de rir. Traz amor no coração, desejo nas veias e perdição no respirar.
Conversa comigo, fala-me disso e daquilo. Diz essas coisas que nunca fazem sentido mas que soam estupidamente bem. Ouve-me, foca-te nas minhas palavras e vê a minha alma a sair delas.
Põe música. Uma qualquer: das tuas ou das minhas, das nossas ou das que nunca serão nossas. Baixa o som, continua a ouvir-me dizer barbaridades, assim mesmo, com esse sorriso perdido e concentrado em todos os poros da minha face.
Acende esse cigarro e ri-te. Ri com verdade, diz que é por isto e por tudo que gostas de mim.
Despenteia-me, goza comigo, luta comigo.
Enche-me o copo, ou passa-me a garrafa.
À minha frente a lareira, que queima todas as partículas de madeira, que faz aquele som romântico, que não pára nem apaga. O mar lá ao fundo, vê-se da janela mas eu sinto-o cá dentro. O céu, escuro mas bonito, cheio de estrelas, iluminado por aquela lua enorme, perfeita, carregada de sonhos e açúcar. Olha: uma estrela cadente! Envio mais um desejo para o céu, mas desta vez peço só paz de espírito e conforto no coração.
Continuas aí, a devorar cigarros fervorosamente, com esse sorriso parvo que não finda. Não vais embora, nem eu quero. Expulso-te da minha vida todos os dias, mas todos os dias imploro aos céus para que fiques, para que rias, para que me faças rir assim, desta forma. Tens ficado, mas o mundo não pára.
O mundo passa, o relógio tem pressa e a vida gira, gira, gira.
Percebo, finalmente, que já não é relevante pensar no amanhã. Só hoje.
Deixo o copo cair... Abraços.
(...)
Gargalhadas. E é por isto que me perco no tempo, porque sabemos rir, porque aparentemente não existe mais nada lá fora.
Trazes todos os marshmallows do mundo guardados no olhar, e ou muito me engano ou o teu coração é feito de açúcar.
Peço que nunca prometas, porque eu sei que ninguém cumpre. Peço que não me digas que vais ficar cá, comigo e para sempre. Que não digas que sou tua e que tu és meu. Peço que entendas que nunca vais cumprir, ninguém cumpre, ninguém sabe como se cumpre. Olhas-me de forma de forma tão séria quanto estranha e dizes que não tens medo de prometer, porque não consegues não cumprir.
Abraços. (...)
Sabes como me levar, sabes o que dizer, sabes bem. Mas não sabes que eu ainda não sei, nem vou saber amar. Fica segredo.
Trazes a última garrafa, os últimos cigarros, as últimas palavras de hoje.
Delicadamente envolves-me nesse sorriso cheio de estrelas cadentes, nesse estranho brilho que transportas no olhar e nesses braços que parecem enormes, que aparentemente conseguem dar duas voltas ao meu corpo.
Rimos mais, rimos sem fim. E, subitamente, tenho o coração confortável, aconchegadinho, quentinho, abraçadinho.
Abraços.
(...) filipa silva.

domingo, 12 de agosto de 2012

nada e tudo

Ás vezes deixo de acreditar. Deixo de confiar, até de sonhar.
Deixo tudo, com medo que o tudo se antecipe e me deixe perdida, rendida, deitada num chão sujo cheio de nadas que outrora foram muito para alguém.
E de repente o amor não existe. Acaba-se tudo, até as cores findam. Perco o sentido e já não tenho um porto de abrigo, uma mão, quanto mais um abraço apertado e sentido. Não há nada, e o nada é vazio, escuro, escasso de luz, de pureza.
As pessoas mentem, não passam de clones mecanizados para magoar, destruir. Funcionam «roboticamente», e esquecem o que é sentir, o que é rir e o quão bom seria amar se houvesse verdade.
A felicidade mora longe, num mundo que agora me parece idílico, naquela utopia que nunca passará disso, por ter sido construída para não ser real.
O mundo está gasto, em ruinas, podre. O céu está repleto de nuvens avarentas, carregadas de uma dor insuportável. Somos todos nuvens. Irreversivelmente.
Amanhã talvez sejamos sol, talvez sejamos o tudo de alguém. Mas também podemos ser o nada, o nada cheio de muito que ninguém vê.

sábado, 19 de novembro de 2011


Está frio. O céu está escuro e as nuvens pesadas, carregadas, quase tanto como eu.
Não importa, sento-me na areia molhada e descalço os ténis, atiro as meias para longe e deixo o mar molhar-me os pés. Está fria, fria como nunca.
Não sinto nada já, apenas um aperto inexplicável tanto quanto inevitável no coração.
Ouvem-se os trovões e, de quando em vez, aparecem uns clarões no céu capazes de iluminar até os becos mais escuros da cidade.
Deixei-me ali. Continuo aqui a desenhar letras em forma de rabisco. As lágrimas acabarão por transformar toda esta tinta da esferográfica preta num enorme borrão negro, imperceptível, mas continuarei.
(...)javascript:void(0)

Ás vezes perco-me e viajo, viajo para longe. Fico num mundo irreal como se nada mais houvesse à volta da terra.
Embarco nestas viagens alucinantes para ignorar, durante momentos, esta montanha russa de sentimentos que me invade como se já me pertencesse, irreversivelmente.
Trata-se de uma busca incessante de paz de espírito, uma procura interminável, um descontentamento constante que grita pelo silêncio como se se tratasse de algo inatingível.
Envolvo-me no percurso imaginário que me conduz a um lugar distante, tão distante como impossível pelo que desaparece segundos após surgir.
Perco-me por entre fragmentos do sonho, vivo-os como se fossem meus. Mas não são, nunca foram. Escapam-se-me pelos dedos como se fugissem aterrorizados.
Tal como tu, que tropeças em abraços recheados de açúcar. Um dia estás cá, no outro já foste para qualquer lugar distante, noutro planeta talvez.
Quando ficas cá, as tuas palavras surgem como que rebuçados embrulhados num papel colorido. Envolves-me num abraço apertado com sabor a morangos mergulhados em chocolate quente. Adoças-me a alma, que é para isso que ela existe, para ser estimada.
Não me pedes nada, eu não te peço nada. Ficamos ali, enrolados numa manta de mel a beber amor, numa chávena engraçada em formato de coração.
De repente lembrei-me de que já não estava a escrever sobre perder-me no meu pensamento mas sim sobre ti. Não apaguei, não editei. Fiquei simplesmente feliz por saber que, parecendo que não, és real.