sábado, 23 de fevereiro de 2008

São seis da tarde. Caminho sozinha por ruas que piso constantemente. Sempre que por aqui passo , ausento - me do mundo ou ausento - me das pessoas. Sempre que olho para isto, para estas casas velhas e estragadas, para esta estrada limpa pela falta de quem por cá passe, olho para estes pequenos metros e estou - me a sentir individualista: passa - me tudo pela cabeça. Esta estrada tem um cheiro que é dela, e tem uma obscuridade que não devem entender. Tenho medo de passar aqui, daí os meus passos apressados, a minha respiração silenciosa e o coração limitado ao silêncio amedontrado. As velhinhas passam e esperam que lhes diga 'olá'. Esqueça minha senhora, não a conheço e não quero saber se vai achar que sou mal educada. Não falo , não ouço, não vejo. Esqueço - me deles, delas. Passo por um grupo de outras velhinhas que me olham de cima a baixo - elas não me conhecem. Nunca conheceram. Vivem aqui ao lado e depois?! Não me viram a nascer, nem a jogar à bola , nem a andar ás cavalitas do meu pai. Não viram a minha vida a passar, não me viram a comer gelados e a babar - me por chocolates. Não me viram a fazer birras, não me viram de mão dada aos meus pais. Porque motivo teria de sorrir para elas ? Sim , eu sei que lhes dei motivo para cusquice durante uma semana, vão dizer que a minha família é aquilo e não sei que mais, mas não são só elas, há quem o faça , e nem um 'Olá' espere.
Continuei. Esta estrada parece eterna , e eu tenho tanto medo de não sair daqui. Estou sozinha , sou nada. Sou ninguém. Passo por milhentas campainhas, e como flash lembro - me : ia ser altamente tocar e ir a correr para não me verem.
- Por favor, porque é que iria fazer isso ? Só o faço quando estou com os meus amigos, não há qualquer motivo para o repetir. Passei por mais umas quantas campainhas e nem olhei mais para elas, passei serenamente e continuei com os meus acelerados passos.
Vivi a ideia de que o Mundo pudesse aqui acabar. Deixando - me sozinha, sem nada, deixando - me ninguém.
Cheguei a casa, como se um rumo marcado. Não pensei se viria ou não, mas vim instintamente.

Um comentário:

ADMINISTRADOR DO C.S.J. disse...

Tenho pena de não escreveres mais.

és uma pensadora que sabe dizer o que sente.