quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

um lugar qualquer.

Olho à minha volta. Perco - me na distância tão enorme daquilo que eu conheço. Desconcentro - me no silêncio destas ruelas abandonadas e esquecidas. Falo-lhes de mim, conto - lhes o segredo do meu coração. Elas desprezam - me mais do que ninguém , e então repito . Grito a estas ruas e caminhos a apodrecer, perdidas numa escuridão tão fria, tão húmida a importância de ser pessoa, da necessidade de ir ao encontro daquilo que parece assustador . Berro, porque não foi este o sítio que idealizei naquela noite de sonhos em lugares desabitados de amor.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

São seis da tarde. Caminho sozinha por ruas que piso constantemente. Sempre que por aqui passo , ausento - me do mundo ou ausento - me das pessoas. Sempre que olho para isto, para estas casas velhas e estragadas, para esta estrada limpa pela falta de quem por cá passe, olho para estes pequenos metros e estou - me a sentir individualista: passa - me tudo pela cabeça. Esta estrada tem um cheiro que é dela, e tem uma obscuridade que não devem entender. Tenho medo de passar aqui, daí os meus passos apressados, a minha respiração silenciosa e o coração limitado ao silêncio amedontrado. As velhinhas passam e esperam que lhes diga 'olá'. Esqueça minha senhora, não a conheço e não quero saber se vai achar que sou mal educada. Não falo , não ouço, não vejo. Esqueço - me deles, delas. Passo por um grupo de outras velhinhas que me olham de cima a baixo - elas não me conhecem. Nunca conheceram. Vivem aqui ao lado e depois?! Não me viram a nascer, nem a jogar à bola , nem a andar ás cavalitas do meu pai. Não viram a minha vida a passar, não me viram a comer gelados e a babar - me por chocolates. Não me viram a fazer birras, não me viram de mão dada aos meus pais. Porque motivo teria de sorrir para elas ? Sim , eu sei que lhes dei motivo para cusquice durante uma semana, vão dizer que a minha família é aquilo e não sei que mais, mas não são só elas, há quem o faça , e nem um 'Olá' espere.
Continuei. Esta estrada parece eterna , e eu tenho tanto medo de não sair daqui. Estou sozinha , sou nada. Sou ninguém. Passo por milhentas campainhas, e como flash lembro - me : ia ser altamente tocar e ir a correr para não me verem.
- Por favor, porque é que iria fazer isso ? Só o faço quando estou com os meus amigos, não há qualquer motivo para o repetir. Passei por mais umas quantas campainhas e nem olhei mais para elas, passei serenamente e continuei com os meus acelerados passos.
Vivi a ideia de que o Mundo pudesse aqui acabar. Deixando - me sozinha, sem nada, deixando - me ninguém.
Cheguei a casa, como se um rumo marcado. Não pensei se viria ou não, mas vim instintamente.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Porto.


É o Porto. O tão bonito Porto.
São as suas ruelas perdidas sem qualquer rumo que me fascinam. A pobreza que se vê a olho nu, mas que de tão caracteristíca, se torna até, bonita.
As varandas a caírem de tão degradadas, as velhinhas a porem uma imensidão de roupas velhas a secar à janela, sem querer saber se aquilo vai ou não transmitir - nos uma imagem duma cidade estragada e viciada naquela imagem. E nunca a pobreza foi bonita de se fotografar, daí o carisma do nosso Porto.
Os velhinhos sentados em bancos a ler o jornal, outros , iludidos pela " alegria " do vinho, dão cambalhotas. Se caír ao rio, caíu. Os autocarros formam trânsito , os carros apitam, o rio fica calmo. Empresários vem à rua fumar o cigarro que o proibíram dentro do escritório, senhores e senhoras perdidos na esperança de deixar de serem pobres tentam vender a quem passa a maior variedade de relógios, ouros e "porcarias" que o são mesmo. O rio continua calmo. A vida corre , o relógio não pára. Eles riem elas observam. O rio está e estará calmo. ( É a alma que a água transmite .) É a beleza das situações que não se preocupam em ser ou não bonitas ( até pelo contrário ) . É a beleza natural, ou por ser antiga, por ser fascinante. Ou então vai dependendo dos olhos de cada um. A meu ver, é o fascinio das simples mas mais do que bonitas imagens ( tal como a flor , do outro post . )

sábado, 9 de fevereiro de 2008


Os mais bonitos momentos das nossas vidas, não se caracterizam pelo local, pelo odor ou pelo som serem igualmente agradáveis. O bonito é tão subjectivo e irracional que a maneira mais bonita de pensar é que bonita é a vida. Bonitas não são as pessoas, porque muitas delas preocupam - se demasiado em serem , bonitas. Bonitas são as palavras, as cores, o céu, o sol e a chuva. Bonito é acordar e saber que sou feliz . Bonitas são as mínimas e ignoradas partes pequeninas da vida, como uma pequena flor. Pequena que só pela sua inocência agravantemente bonita se torna bem maior do que qualquer um de nós. Aquela coisinha com umas pétalas robustas de encantamento nunca se preocuparam se eram ou não, bonitas. E é por isso que o são, sendo - o ou não, são bonitas. São porque são, brancas, azuis ou amarelas, são flores, são sinónimo de vida , e como não podia deixar de ser, de beleza.
Se pensarmos , somos todos seres horríveis que nos desgastamos a olhar para o espelho para agradar os outros. A felicidade dos outros incomoda ( lhes ) ,a vida que levamos não é digna de ser vida. Vida é viver sem saber, sem conhecer. Vida é inocentemente embelezar o olhar de outro alguém sem se dar conta, vida é ser - se bonito sem intenção. Vida é ser , como uma pequena mas bonita flor .