domingo, 12 de outubro de 2008

2008.10.03 , 22h15

Fecho os olhos e tento criar uma linha imaginária em redor da minha vida, dos meus dias, dos meus sonhos, das minhas memórias, das minhas saudades; das minhas lágrimas. Então a linha forma-se curva com rotações imparáveis. O medo é constante, nesta montanha russa de sentimentos.
Vidro-me numa história, na única que sei de cor e reparo que ela significa algo para mim. Mais ninguém a vê, nem muito menos a sente como eu. Começo a pensar que se trata de uma história imaginada por mim em actos de desespero, mas não. Existe mesmo e pertence-me como se fosse um órgão vital: domina as minhas vontades e forças, destrói o que construí. Faz-me sorrir e chorar. Faz-me amar e odiar. Toma conta de mim com a injustiça habitual das histórias.
Não há príncipe nem princesa. Nem bruxa nem duendes, nem fadas. Há um lugar escuro que consiste em quatro paredes e pouco mais: um caderno e um marcador. Muitos riscos e palavras, muitas frases sem nexo e por trás de tudo, uma vida. Uma vida quase esquecida no meio do silêncio ruidoso, penoso, sofrido e pesado. Uma vida sem vida que deu a vida que tinha quando ainda era vida a um amor, que era a sua vida. Um amor enorme dum lado, um nada do outro. E no meio de tanta coisa vazia, há uma quantidade enorme de lágrimas que borratam o caderno e fazem dele uma tela de um pintor abstracto sem talento nem vontade.
Ao longe ouvem-se decerto suspiros tristes, mas é bom que ninguém os queira ouvir de perto - assustariam-se com a imensidão do escuro, do borratado das gotas salgadas, e assustariam-se ainda mais com aquele corpo já sem alma que só serve para desenhar palavras tortas que nunca ninguém vai entender. E digo que é só corpo porque já não restam vestígios da alma. O brilho do olhar já não é brilho, é apenas uma expressão triste; o sorriso é igualmente triste e cínico.
É um corpo que sobreviveu a uma luta - e que luta! - que lhe roubou a vida.
Ninguém entende a tal história porque ninguém sabe do tal corpo sem alma. Ninguém entende a tal história porque ninguém tem a plena noção de injustiça. Ninguém entende a tal história porque só se interessam com os contos de príncipes e princesas. Ninguém entende a minha história, porque ninguém sabe como ela é realmente. Mas é melhor não tentarem entender as quatro paredes escuras, porque nunca ninguém lá vai poder entrar.
É um mundo de alguém que não quer viver porque a sua história lhe roubou a vida, é um mundo que ninguém pode querer porque não o dou, nem empresto a ninguém.
Gostava de acrescentar o famoso " The end ", mas isso, não depende nem da história, nem do tal corpo.

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